CREATINA

19/03/2010 11:41

CREATINA


A creatina é um peptídeo composto pelos aminoácidos Glicina, Arginina e
Metionina, podendo ser sintetizada pelo corpo através destes componentes ou ser
obtida através da ingestão, principalmente de carnes vermelhas e peixes em
quantidades de aproximadamente 5 g/Kg destes alimentos. Após a absorção, a
creatina pode ser armazenada nos músculos em forma de fosfato de creatina ou como
creatina livre.
A creatina e a fosfocreatina participam de uma reação reversível de
fornecimento de energia ajudando a regenerar o tri-fosfato de adenosina (ATP) nas
reações em que ocorre sua rápida degradação e se exige rápida ressíntese, como
corridas curtas (sprints) e séries pesadas de musculação. Como a diminuição das
quantidades de ATP, causada pela dificuldade em manter uma relação viável entre
ADP/ATP, tem sido aceita como uma das causas da fadiga em situações de esforço
máximo e sub-máximo de curta duração, supõe-se que a creatina possa ajudar na
perfomance de tais atividades.
Existem suposições de que a descoberta da creatina como recurso ergogênico
tenha ocorrido na Rússia quando nadadores ingeriam sua urina, recolhida logo após
despertar. Parece que os atletas obtiveram resultados positivos realizando esta
"suplementação" antes do treino e decidiu-se investigar uma maneira mais higiênica
de usá-la.
Alguns estudos sobre creatina
A creatina é provavelmente o suplemento alimentar mais pesquisado e
conhecido da história, existem milhares de experimentos comprovando seus efeitos
positivos sem que sejam verificados efeitos colaterais, portanto serão citados apenas
alguns. Apesar de tentativas incompreensivelmente infantis e suspeitas de relacionar
este peptídeo com o câncer nenhum deles foi levado a sério pela comunidade
científica, na verdade existem alguns estudos sugerindo um efeito da creatina no
combate ao câncer (JEONG et al, 2000; KRISTENSEN et al, 1999; SCHIFFENBAUER et al,
1996; ARA et al, 1998 e MILLER et al, 1993). Talvez a base disso esteja em uma
suposição de que cozinhar alimentos contendo creatina produza mutagênicos deste
peptídeo que se comprovaram carcinogênicos em alguns animais (ver Creatina X
cancer).
Apesar de estudos, como o de MUJICA et al (1996), questionarem a eficácia da
creatina, há várias pesquisas comprovando o contrário (KAMBER et al, 1999, KREIDER,
1998; MIHIC et al, 2000; VOLEK, 1996), sendo, considerado um dos suplementos mais
eficientes e seguros da atualidade.

A dose usada na maioria dos estudos, e que tem se mostrado eficiente no
aumento da reserva total de Creatina e de Fosfato de Creatina, varia geralmente em
torno de 15 a 25 gramas por dia (KAMBER, 1999; KREIDER, 1998; HULTMAN, 1996).
Esta suplementação tem resultado, a curto e longo prazo, em aumento da força e
velocidade.
KAMBER (1999) encontrou melhora na performance em indivíduos realizando
10 minutos de treino intervalado em uma bicicleta, alternando 6 segundos de sprint
com 20 de velocidade moderada, interessante ressaltar que as melhoras foram
maiores nos sprints finais do treino. Os resultados revelaram também menor
concentração de lactato e um significativo aumento no peso. KREIDER et al (1998)
encontraram resultados parecidos utilizando o mesmo protocolo de exercício
intervalado e acrescentando testes no supino e agachamento.
É interessante ressaltar que diversos autores relataram a ausência de efeitos
tóxicos no fígado, rins e sangue (PAÚS e col., 1998, KREIDER, 1998; KAMBER et al,
1999, MIHIC et al, 2000), contrariando a suposição de que a suplementação de
creatina poderia levar a sobrecarga de tais órgãos devido ao possível aumento da
densidade sangüínea, causada pela retenção hídrica intramuscular originada pela
passagem de água do sangue para o músculo acompanhando a entrada de creatina.
O aumento da quantidade de água no espaço intracelular realmente foi
verificado por ZIEGENFUSS et al (1998), nesta pesquisa os autores verificaram a origem
do ganho agudo de peso com a suplementação de creatina. O resultado do
experimento (0,35 g de CM por Kg de Massa Corporal Magra): aumento, em média, de
2% no volume total de água no corpo, de 3% no volume intracelular de água, e
nenhuma alteração significativa no volume extracelular, isto em três dias. Nesta
pesquisa o aumento da quantidade de creatina no músculo foi, em média, de 30%.
Porém não se deve esquecer a teoria de que ao se encher a célula, pode
ocorrer uma dilatação do tecido conjuntivo (bag stretching), o que proporciona mais
facilidade para o crescimento da fibra muscular (HÄUSSINGER, 1990 E 1993;
MILLWARD, 1995). Outra teoria que pode agradar os defensores da creatina seria
embasada no fato haver uma relação constante entre o tamanho da fibra e sua
quantidade de núcleos.
Melhor maneira de ingerir
Ainda há dúvidas de como ocorre o transporte de Creatina para o meio
intracelular e se este mecanismo pode ser afetado pelo uso contínuo deste peptídeo.
O artigo de GUERRERO-ONTIVEROS (1998), esclareceu alguns pontos ao introduzir a
proteína transportadora denominada Crea-T, responsável pela absorção celular da

creatina. Neste artigo o autor se refere ao mecanismo de feedback negativo causado
pela ingestão crônica de creatina em ratos, o que pode levar a diminuição de sua
absorção. Fato também verificado por BOEHM et al (2003) que verificaram que a
saturação de creatina leva a queda de mais 1/3 da quantidade de CreaT presente na
membrana.
Supõe-se que a absorção de creatina seja otimizada pela ingestão de
carboidratos, para verificar esta hipótese GREEN et al (1996) realizaram um estudo
com amostra de 24 homens que se submetiam aos testes (biópsias nos músculos,
amostras de sangue e urina) antes e depois da ingestão de 5 gramas de creatina (grupo
A) ou 5 gramas de creatina seguidas por 93 gramas de carboidratos (grupo B); as
ingestões eram feitas 4 vezes por dia, durante 5 dias. Em ambos os grupos houve
aumento de fosfocreatina, creatina livre e quantidade total de creatina, porém no
grupo B a quantidade total de creatina foi 60% maior que no grupo A. No grupo B
houve também diminuição da quantidade de creatina excretada pela urina. A creatina
ingerida sem o carboidrato, não causou alterações nos níveis de insulina ao contrário
da ingestão com carboidratos, o que sugeriu uma mediação deste hormônio no
processo de absorção de creatina, estimulando os transportadores Crea-T de maneira
similar a que acontece com o GLUT-4.
Conclusões
A suplementação de creatina pode aumentar a performance em exercícios de
alta intensidade e curta duração assim como em exercícios intervalados de intensidade
elevada. a menos concentração de lactato nos grupos que ingeriram creatina pode ser
causada pelo aumento do tempo em que é possível trabalhar utilizando-se a via
metabólica anaeróbia alática. Esta capacidade também pode melhorar a performance
por ajudar na recuperação entre os estímulos.
Traduzindo para os praticantes de musculação: a creatina pode aumentar sua
massa magra pela inevitável retenção hídrica, que acontece com o aumento da
concentração deste peptídeo no espaço intracelular, porém este efeito é em grande
parte transitório.
Uma vez que o uso de creatina não interfere na síntese protéica (LOUIS et al,
2003), a atuação da creatina também parece ser indireta, até porque sua capacidade
de treino aumentaria, até mesmo por fatores psicológicos, o que induziria adaptações
mais positivas. Porém a creatina parece favorecer principalmente as fibras rápidas
(glicolíticas, ou tipo II) como sugere CASEY (1996), sendo assim pessoas com
predominâncias destas fibras e/ou que treinam mais intensamente teriam os melhores
resultados.
Como não se comprovou a ocorrência de efeitos colaterais (exceto o aumento
ponderal e retenção hídrica que pode prejudicar alguns atletas) e diversas pesquisas
comprovaram sua eficiência, a creatina pode ser usada por atletas com o objetivo de
melhorar a performance em atividades físicas intensas como a musculação. Vale
ressaltar que uma medida essencial a ser tomada pelos usuários de creatina é uma
ingestão de água maior que a normal, para evitar que possa ocorrer sobrecarga nos
rins, principalmente.